quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lei do Silêncio

O que fazer?

São onze da noite, segunda-feira, e você está se preparando para dormir após um dia de trabalho. Eis que de repente, não mais que de repente, uma "segunda sem lei" começa no bar em frente a sua casa. Um grupo de pagode toca musicas ao vivo, o som nas alturas. Para animar a festa, chega ao bar um freguês com o carro aparelhado com um verdadeiro trio elétrico. E agora, você vai ficar quieto? Se não, como resolver o problema? Ligar para quem?
Hoje em dia, em todo o país, principalmente nas regiões metropolitanas, convivemos com o barulho, uma perturbação que parece ser incontrolável. Esse problema ocorre em diversas situações do nosso cotidiano, em áreas residenciais, onde o causador do barulho pode ser o próprio vizinho, ou até igrejas e organizações sociais. O Disque-Denúncia não consegue dar conta do problema, assim como outras agências civis ou de governo. E, mal atendido e insatisfeito, o cidadão precisa tomar a iniciativa de resolver o problema ele mesmo. Cria-se então uma situação de conflito perigosa, que pode acabar em violência.
Nós, do Disque-Denúncia, pretendemos gerar um grande debate, a partir do Rio de Janeiro, para fazer uma avaliação do que pode ser feito. Aguardamos seu comentário, com sugestões para esta questão.
Veja neste AQUI, a lei que dispõe sobre poluição sonora (Lei do Silêncio)
Disque Barulho: (21) 2503-2795

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A extensão do abuso sexual

Gláucio Ary Dillon Soares
Conjuntura criminal - tudo sobre crime e violência

Pesquisadores da Clínica Mayo se perguntaram o que revelavam as muitas pesquisas feitas sobre o abuso sexual. Fizeram uma revisão completa das pesquisas realizadas num amplo período, 29 anos, de 1980 a 2008. Integraram os dados, chegando a conclusões confirmatórias do que já se suspeitava, agregando novas certezas ao conhecimento sobre o tema.

O grupo, liderado pelo Dr. Ali Zirakzadeh, concluiu que os danos psicológicos são muitos e duram. Aumenta muito o risco de doenças mentais – depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-trauma e outras doenças, além de aumentar o risco de tentar o suicídio. As conseqüências dos abusos de menores cobrem um amplo número de doenças e transtornos mentais. O preço não é pago somente na hora, ou enquanto a vitima é criança.

Como bons pesquisadores, controlaram as variáveis cuja relevância tinha sido documentada: o sexo da vitima, a idade em que o abuso aconteceu e várias outras. Os tratamentos ajudam, a grande maioria melhora, mas algumas continuam pagando um preço pelo abuso a despeito da terapia e dos medicamentos.

Talvez uma das piores confirmações da pesquisa foi a generalidade do abuso de menores. É muito comum. Tomando as pesquisas como base, estimaram que há 39 milhões de pessoas que sofreram abuso sexual durante a infância – isso somente nos Estados Unidos. Uma de cada quatro mulheres foi abusada quando criança ou adolescentes e um de cada seis homens também. Sete de cada dez de todos os abusos sexuais é contra uma vítima menor de 18 anos.

Há, hoje, mais médicos conscientes de que o abuso sexual é generalizado e de que há uma relação íntima entre o abuso e problemas psiquiátricos. Com isso, cresce o número dos que identificam o abuso e recomendam que a vítima faça um tratamento especializado com um psiquiatra.

É muito importante reduzir o número de vítimas do abuso sexual que sofrem em silêncio durante muitos, muitos anos, algumas durante todas suas vidas. Essa conscientização por parte dos médicos ainda está atrasada no Brasil. Precisamos de campanhas eficientes de conscientização não só para identificar vítimas e tratá-las, mas também para impedir o abuso ou a sua continuação. Para tal, a conscientização tem que ir além dos médicos e atingir toda a população.

Fonte: Mayo Clinic Proceedings.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pior que um crime

Numa noite de fevereiro de 1999, um jovem imigrante africano estava tomando ar em frente à sua casa, na periferia de Nova York, quando quatro homens brancos, em um carro sem placas, o abordaram agressivamente. Amadou Diallo, este era o seu nome, havia tido um amigo atacado por brancos dias antes, e, além disso, era gago e mal falava inglês.

Os quatro eram policiais de um esquadrão especializado em combater crimes de rua, estavam armados e dois deles portavam tacos de beisebol. Eram altos, jovens e encorpados, em função dos coletes à prova de balas que usavam. O jovem negro correu para a portaria de seu prédio, apavorado.

Os policiais o advertiram para parar e foram atrás dele. Falavam com ele, mas ele nada respondia e tentava desesperadamente abrir a porta do prédio com a mão esquerda. A direita estava dentro do bolso e ele a tirou, segurando um objeto escuro. Era sua carteira de documentos.

Mas não foi isso o que os policiais viram. Um deles gritou, como nos filmes: “Arma de fogo! Ele tem uma arma!” Em sete segundos foram disparados 41 tiros pela equipe policial. Depois o silêncio. Os policiais se aproximaram de Diallo, que jazia no chão, a mão direita afastada do corpo. Estava aberta e mostrava sua carteira. Um deles exclamou: “Onde está a maldita arma?!”

É surpreendente a quantidade de estudos que os americanos dedicam aos problemas da ação policial. O caso Diallo foi um deles. Teve a mais ampla repercussão na sociedade norte-americana. Acadêmicos, jornalistas, policiais, políticos e ativistas de todo o país esquadrinharam cada aspecto do acontecimento, dos envolvidos, e de todo o entorno desta tragédia. Amadou Diallo é mais que um nome - é uma referência no ativismo de direitos civis e em estudos do sistema de justiça criminal dos EUA.

Nenhum dos policiais foi condenado, embora tenham ido a julgamento, ao contrário do que aconteceu no caso Jean Charles, o brasileiro vítima de um ataque deste tipo da Scotland Yard, no metrô de Londres. Em casos como o deles, nenhuma explicação satisfaz. O que ocorreu pode ser tudo, menos um acidente. Em geral encontramos uma sucessão de erros, detonada por uma presunção inicial falsa.

O que podemos observar, o que faz toda a diferença, é a extrema preocupação de todas as forças sociais daqueles países em evitar que erros como esses se repitam. Para o futuro, para a gestão das polícias, é fundamental saber exatamente o que aconteceu, segundo a segundo, quadro a quadro.

O esclarecimento público e transparente não visa crucificar ninguém, mas evitar outras mortes. Com isso a polícia aperfeiçoa seus procedimentos, novas leis são aprovadas, enfim, algo muda, não por causa da tragédia, mas apesar dela.

É claro que é importante saber de quem é a culpa e, principalmente, se houver indício de crime, processar os suspeitos. Mas esconder os fatos, jogar a sujeira para baixo do tapete, afastar os especialistas (inclusive da polícia) dos detalhes mais importantes de um acontecimento deste tipo, significa garantir que assistiremos novamente a esse filme, do qual já sabemos o final, e quem são os culpados.

Zeca Borges