sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O cidadão está fazendo sua parte

Nas crônicas que chegam ao Disque-Denúncia lidamos com todo o tipo de abandono. É de sensibilizar casos em que crianças e idosos são abandonados, reféns de sua dificuldade de viver sozinhos, em situações de extrema penúria, que podem até levá-los à morte.

Outro dia uma denúncia levou o conselho tutelar a encontrar cinco crianças, tendo o mais novo um ano de idade, e o mais velho onze. Haviam sido abandonados pela mãe e sobreviviam com o auxilio de vizinhos, gente humilde e que também tinha suas dificuldades, e o pouco que podiam fazer não era suficiente.

Um princípio de incêndio quase terminou em tragédia no cômodo que os abrigava, numa rua do bairro de Rocha Miranda. No histórico da família já constavam casos de maus tratos e de abrigamento, onde um outro irmão já havia morrido.

Este é mais um dentre tantos casos de abandono que emocionam diariamente nossos atendentes. Por vezes é um idoso doente, que sofre sozinho, em outras, crianças cujo direito, nem mesmo à busca da felicidade, mas ao de simplesmente existir, lhes parecem negados.

Nós, aqui no Disque Denúncia, às vezes pensamos se o que fazemos ainda é muito pouco. Quase desesperamos ao testemunhar os dramas dos subterrâneos da nossa sociedade. Mas quando ouvimos alguém dizer que ninguém faz nada, como ignorar as mais de cem mil denúncias por ano que recebemos da população?

O cidadão está fazendo sua parte, sim.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Inovação 2 - maconha e marketing

Há algum tempo, a polícia do Rio (27º BPM) apreendeu numa favela de Santa Cruz, zona oeste do Rio, uma droga que foi batizada de criptonita. É uma mistura de maconha com cocaína ou crack que causa efeitos devastadores.

Este "mesclado" já existia na década de 90, conhecido como zirrê. O nome zirrê é uma sofisticada referência às cabeçadas do ex-jogador de futebol francês Zinedine Zidane e uma derivação da palavra francesa désir (desejo): desirée.

Bem mais forte do que a maconha e até que a cocaína pura, a droga é conhecida de freqüentadores da praia de Ipanema e já ganhou comunidades em sites de relacionamento na Internet, nas quais os usuários compartilham seus modos de preparo. Seu consumo no Rio de Janeiro vem crescendo há mais de um ano. Ela também é conhecida como craconha.

O próprio consumidor pode preparar a mistura, depois de comprar, separadamente, a maconha e o crack. No Orkut, essas experiências são compartilhadas sem pudor.

Entre os sintomas dos usuários estão: aumento da pressão arterial e dos batimentos cardíacos; queda de temperatura, dilatação da pupila, face avermelhada e diminuição do apetite. Podem surgir quadros de esquizofrenia, paranóias e medos sem motivo aparente.

Para os especialistas, as chamadas "dependências cruzadas", são um perigo, porque uma potencializa o efeito da outra. Como o nome indica, qualquer super-homem que entrar em contato com esta droga torna-se fraco e pode até morrer.

Uma das grandes vantagens da maconha para o negócio de drogas é o seu aspecto inocente, divertido até, que permite atrair a clientela jovem com facilidade para o jogo pesado. E alguns traficantes fazem isto com razoável sofisticação.

domingo, 31 de outubro de 2010

Inovação - maconha sem cheiro

Os químicos contratados pelos traficantes trabalham para encontrar novas técnicas agrícolas para adaptar a planta da maconha a diferentes condições de clima e obter variedades mais potentes e com maior concentração de THC.

Um dos resultados dessa tecnologia a serviço do tráfico de drogas seria a maconha sem cheiro. Seu aroma não teria nada a ver com o tradicional cheiro do baseado. A droga foi desenvolvida para dificultar que seja encontrada pela polícia. Ela seria distribuída a um tipo de consumidor bastante selecionado.

Recentemente, a Delegacia Seccional de Taboão da Serra, SP, apreendeu 110 quilos deste novo derivado da maconha, em uma chácara em Juquitiba, na Grande São Paulo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Pega ladrão!

O que mais incomoda nos casos de roubo de rua – o chamado roubo a transeunte – é a sensação de insegurança que ele gera. Mesmo quando não somos vítimas, mas testemunhamos os acontecimentos ou observamos pivetes rondando certas calçadas, nos sentimos altamente ameaçados.

Conhecemos de nome os grandes traficantes do Rio, suas histórias e seus feitos, mas nunca cruzamos com eles em nosso dia a dia. Alguns são lendas para a maioria da população. É claro que são responsáveis pela violência das ruas, mas ninguém consegue imaginar o Fernandinho Beira Mar (tem hífen?) entrando num ônibus, armado, e mandando todo mundo entregar o dinheiro e os celulares. Não é ele quem nos assusta, e sim um menino de 16 anos, muitas vezes com um caco de vidro na mão, tão assustado quanto a gente.

Estes crimes são sempre testemunhados por muitas pessoas, o que agrava a sensação de insegurança. E são poucos os registros feitos nas delegacias, o que dificulta o seu diagnóstico. O Disque-Denúncia recebe diariamente informações sobre eles e elabora relatórios de análise desta atividade para ajudar a ação das polícias.

O que pode ajudar no combate a estes delitos é o fato de que existe uma certa ordem no caos: há uma tendência à especialização, que faz com que as áreas sejam determinadas e a maneira de agir (modus operandi) se repita. Vamos ver que onde mais acontecem esses roubos são no Centro, em Copacabana, na Tijuca e no Méier.

A avenida Presidente Vargas é campeã das denúncias, em função da facilidade de o assaltante se perder no meio da multidão do Centro.

Pega ladrão (2) - A rota de fuga

As ocorrências de roubo nas ruas acompanham os horários de maior volume de comércio. A maior incidência se dá nos dias úteis e nos horários entre nove e onze da manhã e de quatro da tarde às oito da noite. No caso da saidinha de banco, acontecem também pelo período do almoço.

A realização dos crimes é feita, em sua maioria, por jovens que se misturam com facilidade na multidão, como que desaparecendo por encanto. São predadores, precisam estar misturados ao ambiente antes e depois de dar o bote. A rota de fuga é importante. Daí o fato de a Pres. Vargas ser o local de maior incidência, principalmente nas proximidades da Central do Brasil, do Campo de Sant'Ana e da rua Uruguaiana.

Há casos em que a proximidade de uma comunidade determina a área, em função da fuga rápida. As denúncias de assaltos nos sinais da Lagoa, próximos à sede do Flamengo, informam que os ladrões fogem em direção à Cruzada.

Pega ladrão! (3) - O "cobertura"

As denúncias de assaltos a transeuntes mostram que há diferenças no modo de atuação dos grupos de assaltantes de rua, dependendo de serem integrados por jovens ou por adultos.

Os adultos são pessoas bem trajadas, que se utilizam de arma de fogo e se aproximam das pessoas com desenvoltura, como se fossem pedir informações. Aí então, anunciam o assalto e intimidam a vítima com ameaças e ordens firmes. Não passam de dois ou três indivíduos. Estão interessados em laptops e celulares, e podem obrigar a vítima a entrar no banco e sacar dinheiro.

No caso de menores de idade – pivetes - as informações apontam para bandos de mais de três indivíduos, utilizando facas, canivetes e até cacos de vidro. Dão preferência a mulheres e idosos. Aproximam-se do carro, no sinal, como se fossem pedir esmolas, enquanto outros ficam afastados, como que vigiando. Uma vítima comum é a mulher que abre o vidro do carro para fumar. Na “saidinha de banco” os pivetes são rápidos, dão o bote, arrancam a bolsa ou sacola com violência e somem na multidão.

Tanto no caso de adultos como no de pivetes, denunciantes alertam que há sempre alguém armado que está fora da ação direta, mas que está dando cobertura. Aí é que está o perigo, em caso de reação da vítima ou até da interferência de alguém que presencie a ocorrência. O chamado cobertura está ali para agir de surpresa e raramente é percebido. Até mesmo policiais experientes que tentam ajudar uma vítima de assalto têm sido vítimas deles.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

UPPS: de minha parte, obrigado

Zeca Borges
Conta-se muito esta história sobre Elizabeth I da Inglaterra. A rainha e seu protegido, Sir Walter Raleigh, divertiam-se a fumar charutos - na segunda metade do século XVI, isto devia ser uma grande novidade, dentre outras vindas da América.
Observando a fumaça, Raleigh afirmou que ela poderia ser pesada. E, apanhando um charuto novo, iniciou sua demonstração. Colocou-o numa balança e anotou seu peso. Acendeu-o e começou a fumá-lo, tendo o cuidado de colocar suas cinzas no prato da balança. Quando terminou, colocou o que restava do charuto junto às cinzas, e verificou o peso. A diferença que faltava, afirmou ele, era o quanto a fumaça pesava. Brilhante.
A rainha ficou ainda mais encantada com seu favorito. Embora tenha sido interessante, o que aconteceu depois já não tem relação com o assunto que iremos abordar. A história fica por aqui.

Uma das maiores contribuições de iniciativas como a das UPPs no combate ao crime tem muito a ver com a fumaça de charutos. Pode-se dizer o mesmo do Disque Denúncia e das ações preventivas da polícia civil e do BOPE, e, especialmente, das atuais atividades de policiamento ostensivo realizadas pela PM.
O resultado não aparenta peso, embora ele exista. A maneira de se obter esse peso tem algo a ver com o que Sir Walter Raleigh demonstrou. Se na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, os casos de homicídio caíram de acordo com as informações do ISP, podemos afirmar que 637 pessoas deixaram de morrer entre setembro de 2009 e abril de 2010. Estas 637 vidas foram poupadas no período. É o quanto pesa a fumaça.
Nunca se saberá quem foram os que escaparam. Conhecemos apenas os 3.615 que foram mortos, quem são e como foram chorados. Mas não houve comemoração na família dos que estão vivos. Como posso estar entre eles, de minha parte, muito obrigado.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Recife envergonhado

Alcides não acontece todos os dias. É símbolo. Desses que não são inventados. Daqueles que orgulha, que faz todo mundo repensar a vida, as oportunidades, os acertos, os erros. Alcides é história boa, daquelas que enche um livro inteiro, que faz a gente querer contar todos os detalhes para o taxista, o porteiro, os colegas de trabalho, para todo o mundo.

Morador da Vila Santa Luzia, na Torre, filho de uma ex-carroceira, tirou fino da miséria e passou no vestibular de Biomedicina da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Passou bem. Foi primeiro lugar entre os alunos das escolas públicas. Não fazia outra coisa. Só estudava e frequentava o grupo jovem da Igreja da Torre. Deixou a mãe louca de felicidade. E a Vila Santa Luzia também. As mães de lá ganharam um rosto para mostrar aos filhos. "Tá vendo aquele ali. Passou no vestibular."

Aos 22 anos, Alcides ganharia o diploma em setembro. Iria fazer mestrado e depois doutorado. Mas ele morava no Recife. Foi o bastante para levar dois tiros na cabeça. Estava estudando à 1h da sexta-feira. Arrastado de casa por dois homens numa moto. Morreu na frente da mãe e das três irmãs. Queriam matar outro.

Encontrei com a mãe dele, dona Maria Luiza, hoje pela manhã. Ainda estava vestida de orgulho, com o jaleco branco do filho. Faltava bem pouquinho para ela dizer ao mundo que era mãe de um biomédico. Pouquinho para dizer que não era mais uma. Contou todo o sofrimento. Disse que ainda se agarrou com os assassinos. Mas não teve jeito. Conseguiu evitar apenas o terceiro tiro. Os dois primeiros já haviam interrompido o seu maior sonho. Maria Luiza voltou a ser mais uma. Hoje é 8 de fevereiro e 386 mães choraram, apenas neste ano, a morte de um filho.

João Valadares / PE Body Count

A foto é de Alexandre Gondim/JCimagem

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Manteiguinha

Policiais do Rio estão à procura de Wellington Fernandes de Freitas, o Manteiguinha da Vila Kennedy, de 39 anos. Ele faz parte de uma quadrilha especializada em roubar joalherias. Além de jóias, a quadrilha tem preferência por relógios e canetas de marcas famosas. São procurados no Rio de Janeiro e em São Paulo.


Um dos primeiros roubos registrados aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2009, quando roubaram mais de R$ 1 milhão em produtos de uma loja de canetas de luxo e relógios, num shopping na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Na ocasião, foram levados 41 relógios, sendo 28 deles da marca Rolex, avaliados em quase R$ 700 mil.


O grupo seria o mesmo que em 09 de outubro do ano passado assaltou uma joalheria em Volta Redonda. Foram roubados R$ 1,5 milhão em jóias e relógios de marcas famosas numa joalheria, também em um shopping na Vila Santa Cecília, em Volta Redonda.


Também está sendo investigado o roubo à uma joalheria na avenida Paulo de Frontin, no Centro de Volta Redonda. O roubo ocorreu menos de uma semana após a ocorrência da joalheira do shopping. Um homem armado de revólver rendeu funcionários e levou 20 mil reais em jóias, que estavam no mostruário do estabelecimento.


Neste ano de 2010 o grupo já teria agido também em São Paulo e novamente em Volta Redonda. Em 13 de Janeiro, este grupo teria roubado a loja da Montblanc no Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo. Três homens chegaram ao local, pouco antes do fechamento das lojas. Estavam de terno e gravata e foram direto para a joalheria, renderam os vendedores e recolheram relógios e canetas e outros produtos. A ação não durou mais do que dez minutos.


No dia 19 de Janeiro, terça-feira, esta mesma quadrilha teria assaltado uma joalheira na avenida Amaral Peixoto, no Centro de Volta Redonda.


Em todos estes roubos a ação foi filmada pelo circuito interno de segurança, e mostra seu modus operandi: chegam minutos antes do fechamento das lojas, vestidos de terno e gravata, onde estão escondidas as armas - em dois roubos, um dos assaltantes estava com uma metralhadora. Roubam mercadorias de valor elevado, e saem tranqüilamente pela porta da frente do shopping. Na saída há outros três comparsas esperando em motos, e eles sentam na garupa e somem com o produto do roubo.


Manteiguinha, que tem seu reduto na Vila Kennedy, no Rio de Janeiro, já fez parte de uma quadrilha com Bruninho G-3, morto em confronto com a policia em 2004, e com Dinho Porquinho, atualmente em um presídio em Mato Grosso do Sul.


O Disque-Denúncia está oferecendo uma recompensa de 2 mil reais por informações que levem a captura de integrantes da quadrilha de Manteiguinha.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Disque-Denúncia melhora a qualidade de vida no Rio, Campinas e São Luís

Ele é um instrumento de cidadania que aumenta a eficiência do trabalho da polícia. O Disque-Denúncia, que já existe em 7 estados brasileiros, tem participação significativa na redução de crimes como sequestro e na prisão de assaltantes e traficantes de drogas.

No Rio de Janeiro, onde surgiu o serviço, ele ajudou a reduzir drasticamente o número de sequestros. Em Campinas, os maiores desafios são o tráfico de drogas e a violência doméstica. E em São Luís, o mais novo Disque-Denúncia do Brasil existe há apenas 1 ano e meio, mas já registrou cerca de 60 mil denúncias.

Assista a reportagem completa.