domingo, 27 de novembro de 2011

Violência contra a mulher - Campanha

O dia 25 de novembro é marcado pelo Dia Internacional da NÃO violência contra a mulher. Apesar das conquistas femininas no mercado de trabalho, na política e na independência de suas escolhas, muitas mulheres ainda enfrentam dentro de suas próprias casas o seu maior desafio: a luta contra a violência.
O Disque-Denúncia lançou uma campanha por denúncias sobre seis homens, procurados por cometer estupros e/ou assassinato de suas companheiras. Para todos eles há uma oferta de recompensa. A mai alta é para Willian Jefferson Lima, o Guel, que em maio de 2007, assassinou em São Gonçalo, a namorada Joseane Monteiro dos Santos, de 18 anos, por não aceitar o fim do relacionamento.
Até outubro de 2011, o Disque Denúncia recebeu 599 denúncias sobre violência sexual contra mulheres e 1007 sobre violência doméstica.
Ajude a combater este tipo de violência. Ligue para o Disque-Denúncia (2253-1177), o anonimato é garantido.
Campanha não violência contra a mulher
Programa DD Mulher
Para melhor atender as mulheres, o Disque Denúncia do Rio desenvolve o programa DD Mulher, que consiste no atendimento especializado a mulheres vítimas de violência doméstica e intrafamiliar. A equipe é treinada para orientar sobre como proceder: encaminhar a vítima ao serviço policial, psicológico, jurídico e/ou de saúde.
As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs) são as principais parceiras do Programa.
Já em Pernambuco, estado que registra alto índice de assassinato de mulheres por seus companheiros, o Disque-Denúncia desenvolve um trabalho permanente de localização desses criminosos.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Viva o Rio!

Recordar é viver. Três anos atrás deu-se o início do fim do controle territorial armado pelo D. Marta (Zona Sul, 5 mil moradores e controlada pelo tráfico), Cidade de Deus (Zona Oeste, 40 mil moradores e controlada pelo tráfico) e Batan (Zona Oeste, 50 mil moradores e controlada pela milícia).

A reação de alguns foi de descrédito “pois focava só em uma pequena favela da Zona Sul”, como se CDD e Batan não o tivessem sido (ou seria por desconhecerem que existe uma Zona Oeste no Rio?).

Ao final do ano seguinte praticamente toda Zona Sul, com exceção de Rocinha, havia sido pacificada. Apesar disso a soma de TODOS os moradores destas favelas era equivalente a “uma CDD” ou “um Batan”.

A reação de alguns continuou sendo de descrédito dizendo que era um projeto elitista SÓ para a Zona Sul (ignorando o fato de 2/3 das pessoas libertadas eram da Zona Oeste e a explicação da importância de pacificar regiões onde se encontravam mais de 50% dos empregos formais da cidade) e que duvidavam que fosse expandido para a Zona Norte.

Um ano depois, ainda antes da tomada do Alemão, praticamente TODO início da Zona Norte havia sido pacificado.

A reação de alguns continuou sendo de descrédito dizendo que eram todas pequenas (???), e que seria impossível retomar as grandes favelas (Alemão, Rocinha e Maré).

Ao final do ano passado também o Alemão estava retomado e, portanto, em APENAS DOIS ANOS cerca de 25% da população oprimida pelas armas durante décadas haviam readquirido o direito de ir e vir.

Mais uma vez o descrédito de alguns dizendo que o objetivo era somente ter certeza que as Olimpíadas transcorreriam em paz – insinuando que depois das mesmas a polícia sairia destes locais – (NOTA: me fascina este argumento, pois a pacificação começou quase UM ANO ANTES do Rio ter sido ESCOLHIDO como sede das Olimpíadas. Haja visão....). Outras teorias davam conta de um acordo para só atacar as favelas do Comando Vermelho; que NADA foi feito contra os milicianos (e o Batan? E a prisão de dezenas de milicianos e centenas de PMs da banda podre – aliás iniciada muito antes de uma conhecida CPI das milícias?), nem na Zona Oeste (realmente SÓ 40% dos libertados eram moradores da Zona Oeste...), que iria parar após as eleições E que duvidavam que fosse possível retomar as duas grandes que faltavam (Rocinha e Maré).

Agora estamos completando o terceiro ano da política de pacificação com a retomada da “inexpugnável” Rocinha (aliás, para quem não sabe, dominada pela ADA e não CV) SEM um tiro sequer. Aliás, só houve tiros, sem fatalidades, no D. Marta e na Vila Cruzeiro (no Cantagalo houve atos de terrorismo com o incêndio de um ônibus), fato que os descrentes diziam ser impossível (NOTA: muito se pergunta para onde vão os bandidos que saem correndo como frouxos. Primeiro vamos lembrar que são poucos, diante do número de pessoas envolvidas com o tráfico e milícias. Muitos deles já foram capturados – incluindo gente graúda como os recentes Nem, Coelho, Peixe, etc. - , outros morreram em outros locais – dentro e fora da cidade, e alguns se exilaram até no Paraguai. NENHUM RECONSTRUIU seu “controle territorial armado” em qualquer outro lugar),

Depois de três anos da política de pacificação perto de 50% das ÁREAS com violento controle territorial armado (que NENHUMA relação tem com a contagem de favelas do IPP, para frustração de alguns que usavam este número para tentar demonstrar que era impossível pacificar nossa cidade) e cerca de 45% dos moradores, e duas das três grandes favelas (só falta a Maré que muito provavelmente, para alegria da maioria dos moradores, estará livre até o final do ano que vem) AGORA ESTÃO LIVRES (logo, perfeitamente dentro do cronograma de pacificar toda a cidade até o final de 2014). Além disso, os índices de letalidade (homicídios, latrocínios, autos de resistência e outras formas de mortes violentas) e roubos de carros (cobrem da sua seguradora!!!) têm caído constantemente e em valores significativos na nossa cidade nos últimos três anos, em especial nas áreas pacificadas e seus entornos.

Portanto, EU PEÇO PERDÃO aos pessimistas, descrentes, céticos, “do contra”, criadores de “teorias de conspiração”, ou apenas mal-humorados, MAS se a política de pacificação e sua estratégia de implantação estão erradas, então viva o erro !!! Eu prefiro me juntar a maioria dos cariocas, em especial aos que tiveram restituídos o seu direito de ir e vir, ou passaram a ter a esperança de serem libertados, e dar parabéns e agradecer aos envolvidos. Como diria o Ancelmo: EU APOIO!!

Viva o Rio !

(De um amigo do Disque-Denúncia, que nos orienta com sua experiência e sabedoria)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Boas intenções

Por vezes ouvimos sugestões bem intencionadas de tornar o Disque Denúncia (2253 1177) mais acessível ao povo, tornando seu número de telefone gratuito e mais fácil de ser recordado. Parece razoável quando não se tem a compreensão daquilo que faz com que o Disque Denúncia seja um instrumento eficaz de combate ao crime. Mas é uma idéia equivocada e perigosa, que pode inviabilizar a eficácia comprovada do serviço.

Antes de tudo, o DD não é uma central de emergência. Não deve jamais concorrer com o 190 ou com o 192, destinados a dar uma pronta resposta a situações de perigo, desastres e ameaças de tragédias. O Disque Denúncia é uma central destinada a receber do cidadão informações sobre atividades criminosas. Isto o torna um importante instrumento de inteligência policial.

Como toda central de inteligência, o Disque Denúncia necessita formar um banco de dados com informações confiáveis. Não se pode mobilizar uma equipe policial com dados irrelevantes ou falsos. Também não se pode lidar com o excesso de informações sobre uma ocorrência, confundindo mais do que ajudando os policiais em seu trabalho.

Como criar um filtro que melhore a qualidade das informações do Disque Denúncia, sem prejudicar a segurança do denunciante? A solução que adotamos tem muito a ver com a necessidade de se confiar na consciência do cidadão, acreditar em seu comprometimento com a cooperação social. E na sua capacidade de julgamento e liberdade de escolha, como ser humano livre que é.

O número do Disque Denúncia não deve ser difícil, é claro, mas também não deve ser muito fácil. Deve ser acessível, estar em toda parte, menos na cabeça do cidadão. Quando alguem presenciar uma atividade ilícita irá refletir se vale a pena ligar para o DD. Se assim entender, deverá procurar e encontrar o número com facilidade. Ele - o cidadão - é o primeiro e principal analista do sistema. É quem toma a primeira decisão importante: ligar para o Disque Denúncia.

Há uma segunda situação de reforço na qualidade da informação: a ligação é paga. Quando uma equipe policial inicia uma investigação ou uma ação de policiamento, está baseada numa ligação anônima, sim, mas que não é gratuita. Alguém se dispôs a pagar para levar aqueles dados às autoridades. Não se está utilizando recursos do Estado à toa. Seria bastante temerário, talvez imprudente, basear todo o esforço de uma equipe policial em uma informação anônima, vinda de uma ligação gratuita através de um número de três dígitos.

Quando se tem uma central de atendimento gratuito e que usa um número fácil, qualquer acontecimento mais grave inviabiliza o sistema. Imaginem um crime de comoção pública, ou uma oferta de recompensa por um criminoso perigoso: os canais seriam sobrecarregados de ligações, prejudicando exatamente aquelas pessoas que teriam as informações necessárias à uma ação policial de sucesso.

Os sistemas de atendimento baseados em telefone gratuito de três dígitos não conseguem, por motivos de logística, dar um atendimento satisfatório à população. O número de ligações perdidas e irrelevantes supera o de registro de denúncias. Além disso, demandam um custo operacional muito mais alto, em função da necessidade de um número desproporcional de operadores.

O Disque Denúncia deve seu sucesso ao apoio da população que, curiosamente, não se manifesta, através de nossos telefones, por uma mudança para outro sistema.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O cidadão está fazendo sua parte

As pessoas estão acostumadas a avaliar o Disque-Denúncia pela ótica do crime e da violência, com a visão de que há um agressor a ser punido. Poucos se dão conta que há também uma vítima em cada crônica, e por vezes, uma vítima cujo agressor é a própria sociedade. 

Lidamos com todo o tipo de abandono. É de sensibilizar casos em que crianças e idosos são abandonados, reféns de sua dificuldade de viver sozinhos, em situações de extrema penúria, que podem até levá-los à morte.

Outro dia uma denúncia levou o conselho tutelar a encontrar cinco crianças, tendo o mais novo um ano de idade, e o mais velho onze. Haviam sido abandonados pela mãe e sobreviviam com o auxilio de vizinhos, gente humilde e que também tinha suas dificuldades, e o pouco que podiam fazer não era suficiente.

Nós, aqui no Disque Denúncia, às vezes nos perguntamos se o que fazemos não será ainda  muito pouco. Quase desesperamos ao testemunhar os dramas dos subterrâneos da nossa sociedade. Mas quando ouvimos alguém dizer que ninguém faz nada, como ignorar as mais de cem mil denúncias por ano que recebemos da população?

O cidadão está fazendo sua parte, sim.

Zeca Borges

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Por que ligar para o Disque-Denúncia?

Todos nós somos vítimas do crime e da violência. Você pode não ter sido atingido diretamente por um crime, nunca ter sido assaltado, mas de alguma forma você é afetado por isto diariamente. O custo do crime para nós, cidadãos, é bem mais amplo. Pagamos através de taxas mais altas de prêmios de seguro, impostos e até de transportes. Além do medo, da preocupação e do sofrimento físico e emocional com que poderemos nos defrontar.

Todos queremos viver numa comunidade mais segura. Mas como e o que fazer para que isto possa acontecer? É justamente aí que o Disque-Denúncia pode ajudá-lo a dar a sua contribuição. Você pode ter uma informação que ajude a polícia numa investigação ou que evite a ocorrência de um crime. Não importa que ela lhe pareça insignificante. Pode ser decisiva para levar um criminoso para a cadeia, pode salvar uma vida.

O Disque-Denúncia é uma central comunitária de serviços, que permite que você dê informações sobre atividades criminosas através do telefone 2253 1177. Você não precisa se identificar, o anonimato é garantido. Se a sua informação ajudar a resolver um crime ou levar a prisões e apreensões de drogas e armas, você poderá receber uma recompensa de até dois mil reais.
Não investigue, deixe isso para a polícia. Mas se você viu alguma coisa ou ouviu alguma coisa, conte para nós.

O Disque-Denúncia está aí, operando 24 horas por dia, inclusive sábados, domingos e feriados.

Você não está só. Juntos, vamos fazer uma grande diferença.
Ligue para nós! 21 2253 1177

Crack no Rio

Observando os dados do Disque-Denúncia nestes últimos anos percebemos a escalada do tráfico de crack no Estado do Rio de Janeiro. Abaixo a tabela com os números anuais e no primeiro trimestre de cada ano.


As denúncias de crack se referem quase sempre a favelas onde o Comando Vermelho está presente. Até 2006 não temos registros de denúncias em áreas da ADA ou do TCP. Somente no ano de 2007 surge a primeira denúncia em área da ADA e é na Favela da Rocinha. Neste mesmo ano registramos uma denúncia de crack na Cruzada São Sebastião, que é também controlada pela ADA e justamente pelos traficantes da Rocinha.

Se considerarmos que o crack aqui consumido vem do Estado de São Paulo – uma denúncia de 2007 explica que a rota de entrada é por Resende, vinda de Taubaté – e que o tráfico em São Paulo, sob o controle do PCC, tem parceria com o Comando Vermelho, muita coisa se esclarece. Mas e o caso da Rocinha? Recentemente têm sido descobertas refinarias de cocaína no interior da favela. Não apenas este ano (duas vezes), mas em anos anteriores foram estouradas refinarias clandestinas. O crack, como subproduto da cocaína não seria desprezado pelos seus produtores e assim a Rocinha teria passado também a comercializá-lo. Se acompanharmos a evolução das denúncias e considerarmos que esta teoria é a correta podemos concluir que a Rocinha passou a produzir cocaína em 2007.

No ano de 2008 há uma maior distribuição das denúncias em comunidades de outras facções que não o Comando Vermelho. Além da Rocinha e da Cruzada, surgem denúncias no Vidigal, na Mineira, na Chumbada (S. Gonçalo) e em Senador Camará. Estas duas últimas estão sob o controle do TCP.

Foi também observado que o comércio de crack ocorre muito por ação de traficantes independentes, ou seja, fora de comunidades controladas por facções. Há um grande número de denúncias de pessoas de fora das favelas comercializando crack, seja em suas casas, seja em boates e locais de grande movimentação de pessoas. Isto poderia se explicar pela facilidade de transporte e do pequeno volume que geram as pedras de crack, e mesmo por ser um mercado ainda pouco explorado pelas facções.

Outro ponto muito interessante observado nesta avaliação é o grande número de denúncias de crack na Baixada Fluminense, principalmente por independentes. Isto é notado desde os primeiros registros, ocorrendo muito antes da chegada da droga na ADA. Duque de Caxias recebe o maior volume de denúncias mas em todos os municípios da Baixada existem denúncias de crack. Este fato pode estar ligado à rota de entrada da droga no Rio de Janeiro. Se considerarmos que São Paulo é o grande fornecedor podemos entender esta presença na Baixada através da Dutra.

Cola de sapateiro

Houve uma queda consistente no número de denúncias sobre uso de cola de sapateiro por “meninos de rua” no Rio. É preciso atenção para a possibilidade de este fato ter relação com o aumento do consumo do crack.



Ambos são de uso barato e de graves conseqüências para a saúde. A cola de sapateiro é um produto que causa dependência, obrigando o viciado a aumentar a quantidade consumida a cada dia. Em doses elevadas, pode levar à morte.

Ela é vendida a menores de forma irregular. Há leis estaduais e municipais regulamentando o seu comércio. Em muitos casos, adultos compram e revendem o produto já dentro de vasilhames.

Além da cola, há outros produtos, como a gasolina, a aguarrás, o esmalte, o tinner e a benzina, que são misturados em um pano ou engarrafados para serem cheirados pelo usuário.

O Disque-Denúncia recebeu desde 2002, 374 informações sobre este tipo de assunto, relatando como funciona o mercado, o comportamento dos usuários, sua distribuição pela Cidade.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Lei do Silêncio

O que fazer?

São onze da noite, segunda-feira, e você está se preparando para dormir após um dia de trabalho. Eis que de repente, não mais que de repente, uma "segunda sem lei" começa no bar em frente a sua casa. Um grupo de pagode toca musicas ao vivo, o som nas alturas. Para animar a festa, chega ao bar um freguês com o carro aparelhado com um verdadeiro trio elétrico. E agora, você vai ficar quieto? Se não, como resolver o problema? Ligar para quem?
Hoje em dia, em todo o país, principalmente nas regiões metropolitanas, convivemos com o barulho, uma perturbação que parece ser incontrolável. Esse problema ocorre em diversas situações do nosso cotidiano, em áreas residenciais, onde o causador do barulho pode ser o próprio vizinho, ou até igrejas e organizações sociais. O Disque-Denúncia não consegue dar conta do problema, assim como outras agências civis ou de governo. E, mal atendido e insatisfeito, o cidadão precisa tomar a iniciativa de resolver o problema ele mesmo. Cria-se então uma situação de conflito perigosa, que pode acabar em violência.
Nós, do Disque-Denúncia, pretendemos gerar um grande debate, a partir do Rio de Janeiro, para fazer uma avaliação do que pode ser feito. Aguardamos seu comentário, com sugestões para esta questão.
Veja neste AQUI, a lei que dispõe sobre poluição sonora (Lei do Silêncio)
Disque Barulho: (21) 2503-2795

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A extensão do abuso sexual

Gláucio Ary Dillon Soares
Conjuntura criminal - tudo sobre crime e violência

Pesquisadores da Clínica Mayo se perguntaram o que revelavam as muitas pesquisas feitas sobre o abuso sexual. Fizeram uma revisão completa das pesquisas realizadas num amplo período, 29 anos, de 1980 a 2008. Integraram os dados, chegando a conclusões confirmatórias do que já se suspeitava, agregando novas certezas ao conhecimento sobre o tema.

O grupo, liderado pelo Dr. Ali Zirakzadeh, concluiu que os danos psicológicos são muitos e duram. Aumenta muito o risco de doenças mentais – depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-trauma e outras doenças, além de aumentar o risco de tentar o suicídio. As conseqüências dos abusos de menores cobrem um amplo número de doenças e transtornos mentais. O preço não é pago somente na hora, ou enquanto a vitima é criança.

Como bons pesquisadores, controlaram as variáveis cuja relevância tinha sido documentada: o sexo da vitima, a idade em que o abuso aconteceu e várias outras. Os tratamentos ajudam, a grande maioria melhora, mas algumas continuam pagando um preço pelo abuso a despeito da terapia e dos medicamentos.

Talvez uma das piores confirmações da pesquisa foi a generalidade do abuso de menores. É muito comum. Tomando as pesquisas como base, estimaram que há 39 milhões de pessoas que sofreram abuso sexual durante a infância – isso somente nos Estados Unidos. Uma de cada quatro mulheres foi abusada quando criança ou adolescentes e um de cada seis homens também. Sete de cada dez de todos os abusos sexuais é contra uma vítima menor de 18 anos.

Há, hoje, mais médicos conscientes de que o abuso sexual é generalizado e de que há uma relação íntima entre o abuso e problemas psiquiátricos. Com isso, cresce o número dos que identificam o abuso e recomendam que a vítima faça um tratamento especializado com um psiquiatra.

É muito importante reduzir o número de vítimas do abuso sexual que sofrem em silêncio durante muitos, muitos anos, algumas durante todas suas vidas. Essa conscientização por parte dos médicos ainda está atrasada no Brasil. Precisamos de campanhas eficientes de conscientização não só para identificar vítimas e tratá-las, mas também para impedir o abuso ou a sua continuação. Para tal, a conscientização tem que ir além dos médicos e atingir toda a população.

Fonte: Mayo Clinic Proceedings.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Pior que um crime

Numa noite de fevereiro de 1999, um jovem imigrante africano estava tomando ar em frente à sua casa, na periferia de Nova York, quando quatro homens brancos, em um carro sem placas, o abordaram agressivamente. Amadou Diallo, este era o seu nome, havia tido um amigo atacado por brancos dias antes, e, além disso, era gago e mal falava inglês.

Os quatro eram policiais de um esquadrão especializado em combater crimes de rua, estavam armados e dois deles portavam tacos de beisebol. Eram altos, jovens e encorpados, em função dos coletes à prova de balas que usavam. O jovem negro correu para a portaria de seu prédio, apavorado.

Os policiais o advertiram para parar e foram atrás dele. Falavam com ele, mas ele nada respondia e tentava desesperadamente abrir a porta do prédio com a mão esquerda. A direita estava dentro do bolso e ele a tirou, segurando um objeto escuro. Era sua carteira de documentos.

Mas não foi isso o que os policiais viram. Um deles gritou, como nos filmes: “Arma de fogo! Ele tem uma arma!” Em sete segundos foram disparados 41 tiros pela equipe policial. Depois o silêncio. Os policiais se aproximaram de Diallo, que jazia no chão, a mão direita afastada do corpo. Estava aberta e mostrava sua carteira. Um deles exclamou: “Onde está a maldita arma?!”

É surpreendente a quantidade de estudos que os americanos dedicam aos problemas da ação policial. O caso Diallo foi um deles. Teve a mais ampla repercussão na sociedade norte-americana. Acadêmicos, jornalistas, policiais, políticos e ativistas de todo o país esquadrinharam cada aspecto do acontecimento, dos envolvidos, e de todo o entorno desta tragédia. Amadou Diallo é mais que um nome - é uma referência no ativismo de direitos civis e em estudos do sistema de justiça criminal dos EUA.

Nenhum dos policiais foi condenado, embora tenham ido a julgamento, ao contrário do que aconteceu no caso Jean Charles, o brasileiro vítima de um ataque deste tipo da Scotland Yard, no metrô de Londres. Em casos como o deles, nenhuma explicação satisfaz. O que ocorreu pode ser tudo, menos um acidente. Em geral encontramos uma sucessão de erros, detonada por uma presunção inicial falsa.

O que podemos observar, o que faz toda a diferença, é a extrema preocupação de todas as forças sociais daqueles países em evitar que erros como esses se repitam. Para o futuro, para a gestão das polícias, é fundamental saber exatamente o que aconteceu, segundo a segundo, quadro a quadro.

O esclarecimento público e transparente não visa crucificar ninguém, mas evitar outras mortes. Com isso a polícia aperfeiçoa seus procedimentos, novas leis são aprovadas, enfim, algo muda, não por causa da tragédia, mas apesar dela.

É claro que é importante saber de quem é a culpa e, principalmente, se houver indício de crime, processar os suspeitos. Mas esconder os fatos, jogar a sujeira para baixo do tapete, afastar os especialistas (inclusive da polícia) dos detalhes mais importantes de um acontecimento deste tipo, significa garantir que assistiremos novamente a esse filme, do qual já sabemos o final, e quem são os culpados.

Zeca Borges