segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Pega ladrão!

O que mais incomoda nos casos de roubo de rua – o chamado roubo a transeunte – é a sensação de insegurança que ele gera. Mesmo quando não somos vítimas, mas testemunhamos os acontecimentos ou observamos pivetes rondando certas calçadas, nos sentimos altamente ameaçados.

Conhecemos de nome os grandes traficantes do Rio, suas histórias e seus feitos, mas nunca cruzamos com eles em nosso dia a dia. Alguns são lendas para a maioria da população. É claro que são responsáveis pela violência das ruas, mas ninguém consegue imaginar o Fernandinho Beira Mar (tem hífen?) entrando num ônibus, armado, e mandando todo mundo entregar o dinheiro e os celulares. Não é ele quem nos assusta, e sim um menino de 16 anos, muitas vezes com um caco de vidro na mão, tão assustado quanto a gente.

Estes crimes são sempre testemunhados por muitas pessoas, o que agrava a sensação de insegurança. E são poucos os registros feitos nas delegacias, o que dificulta o seu diagnóstico. O Disque-Denúncia recebe diariamente informações sobre eles e elabora relatórios de análise desta atividade para ajudar a ação das polícias.

O que pode ajudar no combate a estes delitos é o fato de que existe uma certa ordem no caos: há uma tendência à especialização, que faz com que as áreas sejam determinadas e a maneira de agir (modus operandi) se repita. Vamos ver que onde mais acontecem esses roubos são no Centro, em Copacabana, na Tijuca e no Méier.

A avenida Presidente Vargas é campeã das denúncias, em função da facilidade de o assaltante se perder no meio da multidão do Centro.

Pega ladrão (2) - A rota de fuga

As ocorrências de roubo nas ruas acompanham os horários de maior volume de comércio. A maior incidência se dá nos dias úteis e nos horários entre nove e onze da manhã e de quatro da tarde às oito da noite. No caso da saidinha de banco, acontecem também pelo período do almoço.

A realização dos crimes é feita, em sua maioria, por jovens que se misturam com facilidade na multidão, como que desaparecendo por encanto. São predadores, precisam estar misturados ao ambiente antes e depois de dar o bote. A rota de fuga é importante. Daí o fato de a Pres. Vargas ser o local de maior incidência, principalmente nas proximidades da Central do Brasil, do Campo de Sant'Ana e da rua Uruguaiana.

Há casos em que a proximidade de uma comunidade determina a área, em função da fuga rápida. As denúncias de assaltos nos sinais da Lagoa, próximos à sede do Flamengo, informam que os ladrões fogem em direção à Cruzada.

Pega ladrão! (3) - O "cobertura"

As denúncias de assaltos a transeuntes mostram que há diferenças no modo de atuação dos grupos de assaltantes de rua, dependendo de serem integrados por jovens ou por adultos.

Os adultos são pessoas bem trajadas, que se utilizam de arma de fogo e se aproximam das pessoas com desenvoltura, como se fossem pedir informações. Aí então, anunciam o assalto e intimidam a vítima com ameaças e ordens firmes. Não passam de dois ou três indivíduos. Estão interessados em laptops e celulares, e podem obrigar a vítima a entrar no banco e sacar dinheiro.

No caso de menores de idade – pivetes - as informações apontam para bandos de mais de três indivíduos, utilizando facas, canivetes e até cacos de vidro. Dão preferência a mulheres e idosos. Aproximam-se do carro, no sinal, como se fossem pedir esmolas, enquanto outros ficam afastados, como que vigiando. Uma vítima comum é a mulher que abre o vidro do carro para fumar. Na “saidinha de banco” os pivetes são rápidos, dão o bote, arrancam a bolsa ou sacola com violência e somem na multidão.

Tanto no caso de adultos como no de pivetes, denunciantes alertam que há sempre alguém armado que está fora da ação direta, mas que está dando cobertura. Aí é que está o perigo, em caso de reação da vítima ou até da interferência de alguém que presencie a ocorrência. O chamado cobertura está ali para agir de surpresa e raramente é percebido. Até mesmo policiais experientes que tentam ajudar uma vítima de assalto têm sido vítimas deles.