quarta-feira, 28 de março de 2012

Millôr esculhamba o Disque-Denúncia - 1996

Corria o ano de 1996 e o Disque-Denúncia conseguia mobilizar a população do Rio de Janeiro a combater o crime, levando a polícia a vencer a batalha contra a indústria do sequestro. Parecia que a Central DD era uma unanimidade, quando Millôr publicou o texto abaixo. Embora não concordemos com seus argumentos, pois denúncia e delação são coisas muito diferentes, foi para nós um momento muito importante de reflexão sobre a nossa atividade e seu valor. 

Nota-se que houve uma modificação após o 11/setembro/2001, mas o recado continuou igual. Leia O Delator, de Millôr Fernandes:

O Delator

A coisa mais odiosa inventada para usar o trôpego caráter humano é a delação. Quando vejo, aqui mesmo no Rio, esse anúncios oficiais de grandes empresas, bancos, ônibus etc, gritando DENUNCIE sinto vergonha por vocês, já que eu, pra sobreviver, resolvi ser sem vergonha (duas palavras, por favor).

Pessoalmente eliminei a possibilidade de aceitar esse nojo psíquico quando, menino, vi o filme O DELATOR, dirigido por John Ford (grande quando dirigia dramas como este ou filmes românticos como Como Era Verde o Meu Vale). Marcou-me para sempre, tanto que lembro do filme hoje, quase sem apoio de informações atuais.

No papel do delator perfeito estava Victor McLaglen, um grosso admirável. Era delator por razões pungentes e sofria o tempo todo as dores da infâmia. McLaglen fez, durante 50 anos, 121 filmes. Ninguém mais se lembra dele. Repito, pros que vivem lutando por notinhas de jornal: assim passa a glória do mundo.

Ser delator, pelo menos teoricamente, ainda é o máximo da degradação humana. Nos grupos mafiosos - perdoa-se tudo menos trair a omertá - e nos grupos marginais de todo o mundo e de toda a história, desde os assaltantes de estrada do sul da Itália, de Nunzio Romanetti, até entre os cabras de Lampião. Delator não tem perdão.

Agora Bush não só justifica, glorifica, e dá prêmio em dinheiro à infâmia. Chegamos à infâmia globalizada. E patriótica.

PS. Perdão, mas no dia 23 de outubro de 2001, em nosso Saite, pesquisamos o que os teleitores preferiam:

1) Entregar Bin Laden a Bush.
2) Entregar Bush a Bin Laden.
3) Apelar para Monica Lewinsky.

Em uma semana responderam 6.431 pessoas (mais do que a qualquer ibope desses que andam por aí dirigindo eleições).
Apenas 2% dos teleitores foram favoráveis a entregar Bin Laden a Bush, 74% votaram por entregar Bush a Bin Laden! Gozadores, 24% dos teleitores acharam que um boquete de Monica Lewinsky pelo menos transferiria a crise internacional para o Supremo americano. 

Texto extraído da sessão do Millôr no portal UOL

domingo, 18 de março de 2012

Histórias do Disque-Denúncia

O Verdadeiro Herói - 2009
(por Mauro Ventura)


Os jornais dão hoje o devido destaque à prisão ontem à noite de Romarinho, suspeito de latrocínio de Evandro, do AfroReggae. Leio que o Serviço Reservado da PM, a P2, comandou a prisão, feita em conjunto com a Polícia Civil.

O comandante da PM destacou a parceria das polícias. Já o comandante da P2 disse que a prisão era "questão de honra" para a PM. Pelo que se lê, foi um trabalho exemplar de investigação da polícia.
Não foi bem assim. Às 10h da manhã de ontem, o Disque-Denúncia (DD) recebeu a informação de quem eram os culpados e onde estava Romarinho. Repassou tudo à polícia, que foi lá e prendeu um dos bandidos.
Só não deu o devido crédito, preferindo capitalizar a prisão. A população lê e pensa: "Finalmente a polícia investigou", sem se dar conta de que ela mesma é que foi a verdadeira detetive do caso.


Tudo bem a polícia alardear a captura, mas seria bom se tivessem dito que o herói da história foi um cidadão anônimo que telefonou para o DD e contou tudo.


Comente Ler comentários (6)

quinta-feira, 15 de março de 2012

Histórias do Disque-Denúncia

O Delegado que Panfletava Cadáveres - 1991
Em abril de 1991, quatro anos antes da criação do Disque-Denúncia, o delegado Paulo Souto (mais tarde subsecretário de Integração Operacional da Secretaria de Segurança) assumiu a delegacia de Comendador Soares, em Nova Iguaçu. Os grupos de extermínio impunham o terror na região. Na delegacia de Paulo Souto, o número de homicídios oscilava entre 20 e 25 ao mês, e já no dia da posse houve três assassinatos. Os crimes ocorriam principalmente em determinados bairros e tinham características semelhantes. 


Um homicídio numa localidade chamada Palhada, porém, viria a mudar a rotina da delegacia. A vítima era um rapaz entre 19 e 20 anos, baleado perto de uma birosca. “Eu cheguei de gravatinha e prancheta e comecei a perguntar se as pessoas o conheciam”, lembra Paulo Souto. “Só descobri que ele era da localidade. E nada mais”. Ainda assim, o delegado insistiu em ficar. Num dado momento, um bêbado irrompeu a cena do crime. “Doutor, todo mundo aqui sabe quem matou”, gritou o bêbado. Fez-se um silêncio de cemitério. E ele recomeçou: “Eu também sei”. À medida que o delegado se aproximava, o bêbado reagiu: “Não adianta nem vir falar comigo porque eu não vou falar. Se eu falar eu vou morrer”. Seguiu-se uma risada constrangida. E ninguém disse mais nada. “Saí dali com inúmeras testemunhas arroladas e a nítida sensação de que estava sendo enganado. Todo mundo sabia quem era o assassino, mas ninguém iria me dizer porque corria risco de vida”, diz o delegado. “No decurso da investigação vim a saber que naquele dia o criminoso estava no bar, misturado às testemunhas”.

Ao regressar à delegacia, Paulo Souto sentia-se de pés e mãos atados. Sabia que precisava das testemunhas para esclarecer o crime e sabia que elas tinham medo de falar. “Foi quando eu resolvi criar um panfleto, chamado panfleto do cadáver. Era um quarto de folha de ofício que dizia o seguinte: ‘Você que presenciou este crime certamente será a próxima vítima. Denuncie por carta ou por telefone ao delegado Paulo Souto. Não precisa se identificar. Denuncie anonimamente’. Abaixo, o telefone da delegacia”, conta. A cada homicídio, 200, 300 panfletos eram distribuídos ao redor da área do crime. Enquanto isso, o delegado freqüentava reuniões de moradores, tentando ganhar a confiança da população. As denúncias não tardaram a chegar. “Aos poucos fomos identificando os matadores pelos bairros e centrando as investigações neles. Durante o ano de 1991 um número grande de criminosos foi preso graças às denúncias anônimas. Depois vim a saber que isso já tinha sido usado muitos anos antes no Canadá”, relembra Paulo Souto.

A precursora experiência do delegado Souto foi uma das bases da implantação do Disque-Denúncia em 1995. 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Histórias do Disque-Denúncia

Os Três Sequestros - 1995
Ainda não eram sete horas da manhã quando Marcos Fernando Chiesa chegou ao Colégio São Sebastião, na Estrada do Galeão, 998, Ilha do Governador. Aluno da segunda série do segundo grau, 16 anos, Marcos estava num Fiorino dirigido pelo motorista da família. Era uma quarta-feira, 25 de outubro de 1995. O que se seguiu estaria nas manchetes do dia seguinte. Diante da escola cheia de alunos, o carro foi fechado por um Passat e um Monza, de onde saltaram homens armados de revólveres e pistolas. Aos berros, o grupo rendeu o motorista e voltou-se para o interior do carro. Filho do comerciante José Chiesa, dono de uma próspera rede de churrascarias, Marcos era o verdadeiro alvo da ação. Foi arrancado do Fiorino e obrigado a entrar num dos carros, que disparou em alta velocidade. Desapareceu sem deixar vestígios.

Menos de duas horas depois, do outro lado da cidade, o jovem Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Filho seguia para o trabalho. Naquele horário, como de costume, o trânsito arrastava-se lentamente pelas ruas de Botafogo. Diante do shopping Rio Off Price (atual Plaza Shopping), na Rua General Severiano, Eduardo, 21 anos, foi surpreendido por oito homens armados de escopetas e metralhadoras. Vestindo coletes da polícia civil, frios e organizados, eles prontamente cercaram sua pick up Mitsubishi. “Perdeu, perdeu”, gritava um dos integrantes do bando. Sem que pudesse reagir, Duda foi levado pelos bandidos. Cinco dias antes, seu pai, o empresário Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, diretor do grupo Ipiranga, havia assumido a presidência da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro.

Os dois episódios caíram como bombas na cúpula da Segurança Pública, que, na véspera, anunciara com entusiasmo a redução nos índices de seqüestro. Mas um terceiro petardo ainda estava para ser lançado. No fim da tarde, a estudante Carolina Dias Leite treinava equitação na Sociedade Hípica Brasileira, na Lagoa. Antes das 18h, ensaiava sua ida para casa, quando foi rendida na porta do clube. Como as vítimas anteriores, Carolina não foi pega ao acaso. Quatro bandidos esperavam pela moça de 18 anos, corpo mignon, filha de Antônio Dias Leite Neto, empresário do ramo de TV a cabo, neta de Antônio Dias Leite Filho, ministro do governo Costa e Silva. “Foi um soco no estômago”, desabafou o então governador Marcello Alencar. Naquela noite, uma névoa de impotência e desânimo cobriu o Rio de Janeiro. Oficialmente, dez pessoas permaneciam em cativeiro. Dos pontos de ônibus às mesas dos restaurantes, o assunto era um só: o Rio parecia refém do crime organizado.

Passadas menos de 24 horas, uma ligação anônima para o Disque-Denúncia mudaria os rumos dessa história. No telefonema – um dos vinte sobre o caso – uma voz dizia que Carolina estava numa casa do conjunto habitacional Santa Maria, em Campo Grande. Por causa da localização, a informação foi transmitida via fax para o Regimento de Polícia Montada Enyr Cony, da Polícia Militar, que fica em Campo Grande. “Disque-Denúncia? Como é isso?”, estranhou o capitão Weber Guttemberg Collyer, hoje tenente-coronel. “A gente nem sabia direito o que era o serviço”. Apesar da desconfiança, o então capitão achou melhor checar a história e seguiu com um pelotão até o conjunto habitacional. “A denúncia era cheia de detalhes, estava tudo lá. Avistamos a casa, cercamos e arrombamos a porta. A menina estava sentada, vendo televisão, tranqüila. Não estava acorrentada nem amordaçada. Perto dela havia um homem cozinhando”, lembra o tenente-coronel. O bandido tinha um revólver 38 apoiado sobre a geladeira, mas não arriscou empunhar a arma. Aliviada, a moça foi conduzida até o regimento, onde pouco depois pousaria um helicóptero providenciado pela família para levá-la até a Divisão Anti-Seqüestro, no Leblon. “Agora está 2 a 1 para eles”, bradou o então chefe da Polícia Civil, Helio Luz. No dia seguinte, Carolina divulgou um bilhete falando sobre o seqüestro. Encerrava o texto comemorando a libertação e dizendo: “Eu gostaria de agradecer a todo mundo envolvido nesse evento todo, especialmente à pessoa desconhecida que entrou em contato com o Disque-Denúncia”.


Enquanto a família de Carolina comemorava, continuava o calvário dos Gouvêa Vieira(1) e dos Chiesa. Uma semana depois dos seqüestros, na tarde de 1º de novembro, o Regimento de Polícia Montada de Campo Grande recebia um novo fax do Disque-Denúncia. O relato número 89.11.95 dizia: “no Caminho do Vai e Vem, em Rio das Pedras, Campo Grande, sobe um morrinho. No início do morrinho existe um portão preto que dá para um sítio. Há muito movimento de carros estranhos no local e também existe uma pessoa seqüestrada no sítio. A polícia esteve no local, só que não entrou nesse sítio”. Comandante do Regimento, o coronel Gilberto Pereira pegou o fax, estranhou o endereço e correu até a mesa, onde agarrou-se a um guia de ruas. Revirou o livro de cima a baixo e nada. Cismado, ele entrou na sala do serviço reservado e reclamou que não conseguia encontrar o local. Foi quando um soldado, que descansava em um canto da sala, interrompeu o coronel. “Meu comandante, o caminho do Vai e Vem não é em Rio das Pedras. É em Rio da Prata. Eu conheço”. Pereira deu a ordem: “Veste paisano e vai lá com o Weber”. Weber era o mesmo policial que, seis dias antes, libertara Carolina do cativeiro. Naquele dia, estava ali por acaso. Deveria estar de folga, como previa a escala do Regimento, mas havia trocado com um colega, que precisava do dia livre. Era fim de tarde quando a equipe chegou ao lugar descrito na denúncia – uma região de sítios, com algumas poucas casas, quase todas de aparência muito simples. “Seguíamos de carro quando deu para perceber uma pessoa no alto do morro. Já achei estranho, mas, para não despertar suspeitas, não parei em frente ao tal sítio. Continuei e dei a volta. O problema é que a viatura que vinha atrás da gente parou assim que viu o sítio, com o portão preto. Aí, não era mais possível perder tempo. Deixamos os carros e entramos correndo. A casa ficava mais ao fundo, numa descida. Uma casa muito humilde”, conta o tenente-coronel Weber.

Os policiais se dividiram. Parte cercou a casa, parte arrombou a porta e entrou. A construção estava vazia, mas havia um único quarto com a porta trancada. Com o tornozelo ainda dolorido por causa de uma entorse, Weber pediu ao colega que metesse o pé na porta. O colega atendeu ao pedido, a porta veio abaixo e logo os policiais se surpreenderam com a cena. O quarto era escuro e úmido. Tinha aproximadamente 9 metros quadrados e um colchão de casal jogado sobre o chão vermelho. Deitado sobre ele, havia um rapaz encapuzado, amordaçado e com braços e pernas amarrados. Ao lado dele, restos de biscoitos e uma garrafa de refrigerante. “Falei para ele que éramos da Polícia. Ele abraçou, chorou, ficou muito emocionado. A gente sentiu que ele tinha sido maltratado”, diz Weber. O refém era Marcos Chiesa. Nos sete dias de calvário, saber-se-ia depois, ele passou por vários cativeiros, foi transportado na mala de um carro, machucou o pé numa das mudanças, dormiu preso a uma árvore numa gruta. Passou frio, sede, fome e pensou que fosse morrer. Libertado pelos policiais, Marcos foi levado ao Regimento de Polícia Montada, onde tomou banho e jantou ao lado da tropa. Depois, foi conduzido à Divisão Anti-Seqüestro, onde o pai e os irmãos esperavam por ele. Naquela noite, diante de um pelotão de repórteres, Marcos agradeceu e fez um apelo à população, pedindo que as pessoas continuassem a ligar para o Disque-Denúncia.


A voz anônima que levou a PM ao cativeiro de Marcos esforçara-se – e muito - para ajudar. Primeiro, ligou para o Disque-Denúncia informando a localização do cativeiro. Depois, acompanhou a movimentação de policiais da Divisão Anti-Seqüestro pela vizinhança. Como eles foram embora sem chegar à casa, o informante ligou novamente para o Disque-denúncia, desta vez com detalhes mais precisos. Durante todo o episódio, um cidadão, anônimo, monitorou, da janela, a ação de bandidos e policiais. E repassou tudo o que viu em suas ligações. Horas depois, ao lado do filho, José Chiesa desabafava aliviado: “Sem a denúncia acho que meu filho não teria sido encontrado”.

Os seqüestros de Marcos, Carolina e Eduardo desencadearam uma onda de indignação que uniu empresários e moradores de favelas, organizações-não-governamentais, políticos, artistas, sindicatos. Um amplo movimento pela paz, batizado de Reage Rio, ganhou as ruas da cidade. Enquanto isso, a central de atendimentos do Disque-Denúncia via o volume de telefonemas crescer 800% em quinze dias. Os seqüestros de outubro de 1995 foram a prova de fogo do Disque-Denúncia. “Foi quando pudemos provar a eficácia do sistema”, afirma Zeca Borges, coordenador do serviço. O combate ao crime no Rio de Janeiro ganhava uma nova arma. E desta vez ela estava nas mãos do cidadão.
________________________________________________________________

1 Várias denúncias falavam do suposto cativeiro de Eduardo. Nenhuma levou a polícia até ele. O rapaz viria a ser libertado, graças a investigações da Polícia Civil, na madrugada do dia 31 de novembro – mais de um mês depois do seqüestro, em Santa Cruz da Serra, Duque de Caxias. Eduardo estava acorrentado ao empresário José Zeno, seqüestrado quatro meses antes, na porta de sua casa, no Condomínio Novo Leblon, na Barra da Tijuca.

quinta-feira, 8 de março de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER E OS EXEMPLOS DE MULHERES CORAGEM


Milton Corrêa da Costa
(Neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher, vale conhecer a história de vida da ex- esposa de Guimarães Rosa, a luta da magistrada corregedora do Conselho Nacional de Justiça e o trabalho de uma Major da PM do Rio de Janeiro)

ARACY MOEBIUS DE CARVALHO GUIMARÃES ROSA
Paranaense, nasceu em Rio Negro, e ainda criança foi morar com os pais em São Paulo. Em 1930, Aracy casou com o alemão Johan von Tess, com quem teve o filho Eduardo Carvalho Tess, mas cinco anos depois se separou, indo morar com uma irmã de sua mãe na Alemanha. Por falar quatro línguas (português,inglês, francês e alemão), conseguiu uma nomeação no consulado brasileiro em Hamburgo, onde passou a ser chefe da Secção de Passaportes.
No ano de 1938, entrou em vigor, no Brasil, a CircularSecreta 1.127, que restringia a entrada de judeus no país. Aracy ignorou acircular e continuou preparando vistos para judeus, permitindo sua entrada no Brasil. Como despachava com o cônsul geral, ela colocava os vistos entre a papelada para as assinaturas. Para obter a aprovação dos vistos, Aracy simplesmente deixava de pôr neles a letra J, que identificava quem era judeu.
Nessa época, João Guimarães Rosa era cônsul adjunto. Ele soube do que ela fazia e apoiou sua atitude, com o que Aracy intensificou aquele trabalho, livrando muitos judeus da prisão e da morte.
Aracy permaneceu na Alemanha até 1942, quando o governo brasileiro rompeu relações diplomáticas com aquele país e passou a apoiar os Aliados. Seu retorno ao Brasil, porém, não foi tranquilo. Ela e Guimarães Rosa ficaram quatro meses sob custódia do governo alemão, até serem trocados por diplomatas alemães. Aracy e Guimarães Rosa casaram, então, no México, por não haver ainda, no Brasil, o divórcio. O livro "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa (1956), foi dedicado a Aracy.
Sua biografia inclui também ajuda a compositores e intelectuais durante o regime militar implantado no Brasil em 1964, entre eles Geraldo Vandré, de cuja tia Aracy era amiga.
Aracy ficou viúva no ano de 1967 e não se casou novamente.Sofria de Mal de Alzheimer e morreu no dia 3 de março de 2011 em São Paulo, de causas naturais, aos 102 anos.
Fonte: Site Brasilianas. Org

ELIANA CALMON
Ao liderar a luta pela devolução ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), conforme recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), do direito de investigar magistrados, independentemente das ações nas corregedoroias estaduais, a ministra Eliana Calmon, corregedora do CNJ, ganhou a admiração de todos os brasileiros paela luta obstinada em favor da transparência no Poder Judiciário. E, mais, para o bem da democracia, processos disciplinares contra juízes serão julgados agora em sessão pública. Uma ato de coragem que marcou a história do fim do corporativismo, indesejável em qualquer dos Poderes da República e em classes prosissionais. Todos, de uma vez por todas, são agora iguais perante a lei. Para o bem da democaracia, o princípio da transparência dos atos públicos, a começar pelo Poder Judiciário, foi restabelecido. A ética, a coragem e o elevado espírito de patriotismo demonstrados pela insigne ministra Eliana Calmon, são exemplos positivos deixados para as novas gerações. Eliana Calmon é uma mulher coragem. O Estado.Democrático de Direito saiu pois vitorioso pela luta obstinada e incansável de uma valorosa mulher. .
.
PRICILLA DE OLIVEIRA AZEVEDO
Ela é negra, corpo seco e musculoso, cabelos sempre presosnum coque bem apertado e, de enfeites, apenas gloss e discretos brincos nasorelhas. Tem 1,65 metro e não deve pesar muito mais do que 60 quilos. Não fossepor uma certa dureza, logo notada, a major da Polícia Militar Pricilla, de 34anos, poderia até ser descrita como uma mulher de aparência frágil. Engano.Depois de expulsar o tráfico do Morro Dona Marta, em Botafogo, como primeiracomandante de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio, ela ligou naterça-feira dos EUA, na hora do almoço, para contar ao secretário de Segurança,José Beltrame, outro feito. Meio sem jeito, disse que era uma das dezvencedoras do Prêmio Internacional Mulheres de Coragem 2012.
— Você é uma guerreira! — explodiu Beltrame ao telefone.
Não era para menos. Em 2008, ele colocara nas mãos de uma oficial da PM, ignorando resquícios machistas, o mais importante programa de segurança do governo.
Beltrame não esconde de ninguém a admiração que tem pela história de Pricilla de Oliveira Azevedo, de origem humilde, parecida com a dos moradores da comunidade que protegeu por três anos. No início, chegou a andar de fuzil pelas vielas. Depois da pacificação, adotou a pistola. Mas a arma da major sempre foi mesmo a conversa. Junto com a repreensão no olhar, era imbatível. Pode parecer politicamente correta, mas, dizem, que se transformava em operações policiais. Com a adrenalina, sobravam até palavrões.
Mulher coragem. O título faz sentido. Em 2007, ela sofreu um sequestro-relâmpago. Foi levada com uma arma enfiada na boca até uma favela em Niterói. Quando a identificaram como policial, ela apanhou. Na cara. E muito.Ficou cheia de hematomas. Mas conseguiu fugir. Catou um por um seus detratores;só falta um. Um dia chega o dia dele.
Estudante de direito, a major — que deixou até afilhados na favela; e quantas Pricillas sem S não nasceram depois de sua passagem por lá? — só saiu do Dona Marta para assumir o desafio de cuidar de todos os projetos estratégicos da pasta.
O prêmio é um luxo para Pricilla, evangélica da Assembleia de Deus, criada no subúrbio. Será entregue nesta quinta-feira, Dia Internacionalda Mulher, pela secretária de estado americana, Hillary Clinton, em Washington.E terá como convidada especial ninguém menos que a primeira-dama Michelle Obama. Pricilla também deverá ser cumprimentada por Leymah Gbowee e Tawakkol Karman, que ganharam o Prêmio Nobel da Paz de 2011. O evento será no Auditório Dean Acheson do Departamento de Estado dos EUA. Em comum entre as premiadas,ações na área de direitos humanos, caso de Samar Badawi, ativista política da Arábia Saudita, ou de Hawa Abdallah Mohammed Salih, do Sudão.
Fonte: Jornal 'O GLOBO'
EXEMPLOS

Aracy, Eliana e Pricilla são, pois, três belos exemplos de mulheres coragem a serem reverenciadas, entre bilhões de mulheres heróis e anônimas no mundo, neste O8 de março. Nossos calorosos aplausos a quem dá a luz da vida e os exemplos de coragem, amor, afeto, doçura e companheirismo. Parabéns mulheres pela lutas e conquistas.
Milton Corrêa ds Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro

segunda-feira, 5 de março de 2012

As ofensas à magistrada e ao policial

Milton Corrêa da Costa

Dois recentes episódios, de ofensa a uma magistrada e a um policial, ambos encontrando-se no pleno exercício de suas missões, precisam ser objeto de reflexão. No primeiro caso, ocorrido dias atrás, na Zona Oeste, durante uma operação de fiscalização da Lei Seca, um delegado da Polícia Civil, passageiro de um veículo sem placas de identificação, e sem que a nota fiscal de compra tivesse sido apresentada, insurgiu-se, de forma desrespeitosa, a um oficial da PM que ordenara proceder de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro.

Salta aos olhos a reprovável e inaceitável conduta da referida autoridade policial — o episódio foi flagrado em vídeo — ao desacatar o oficial. Um mau exemplo para quem deveria ser o primeiro a zelar pelo cumprimento da lei e sobretudo respeitar agentes da autoridade no exercício legal da função. Ninguém está cima da lei pelo cargo ou função que ocupa. A reação agressiva e deselegante, tentando desacreditar e constranger o policial em via pública, fere o bom comportamento social e ético que se espera de autoridades policiais. Indesejável e reprovável conduta, sem nenhuma dúvida.

O outro episódio, este de claro desrespeito, foi protagonizado pela advogada de defesa de Lindemberg Alves, durante o julgamento de seu cliente, condenado a 98 anos de prisão. A advogada Ana Lúcia Assad, em dado momento do julgamento, disse à juíza do caso: “Você precisa voltar a estudar’’.

A juíza Milena Dias afirmou durante a leitura da exemplar sentença de condenação, que requisitou ao Ministério Público, em sua legítima defesa e a do próprio Poder Judiciário, que apure a declaração dada pela advogada. A juíza considerou que houve crime contra a honra. A frase, segundo ela, foi proferida de “forma jocosa, irônica e desrespeitosa.” Fica aqui, portanto, o ensinamento de que sem respeito à justiça e à polícia não há respeito à lei, à ordem e ao Estado Democrático de Direito.

Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro

domingo, 4 de março de 2012

ÁLCOOL, MACONHA E DIREÇÃO: UM COQUETEL PERIGOSAMENTE MORTÍFERO

Milton Corrêa da Costa

O motorista de uma picape colidiu contra uma moto e matou um casal na manhã de sábado, 03 de março, na Avenida M’Boi Mirim, na Zona Sul de São Paulo. Será indiciado por homicídio doloso (dolo eventual), segundo informações da polícia que afirma que a perícia encontrou, atrás do banco do passageiro do veículo, um cigarro de maconha. Por volta das 6h30, após fazer uma conversão proibida, próximo ao Terminal Guarapiranga, o veículo atingiu a moto onde estava o casal Alexandre da Silva e Francielle Paiva, que deixaram uma filha de 6 anos. Antes de colidir contra um muro e derrubar um portão, ele ainda atropelou um homem que caminhava pela calçada. O motorista do carro ficou gravemente ferido e ficou internado no Hospital das Clínicas.

Como se não bastassem as tragédias ocorridas no trânsito pelo uso do álcool, tal fato traz novamente à baila a discussão sobre o efeito do uso da maconha (droga ilícita) na condução de um veículo e na vida cotidiana. “É preciso explicar as coisas à luz das últimas pesquisas. Se é verdade que antigamente um cigarro de maconha provocava efeitos equivalentes ao de duas doses de uísque, hoje, com as mutações genéticas produzidas nas sementes da planta para intensificar as sensações que ela provoca, é praticamente impossível determinar os níveis de THC (tetrahidrocanabinol), o princípio ativo da maconha que cada cigarro contém”, pondera a psiquiatra Maria Thereza de Aquino, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e diretora do NEPAD, Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas.

Um dos discursos mais conhecidos daqueles que defendem a legalização da maconha é justamente o de questionar a venda livre de bebidas alcoólicas e de cigarros. Consideram hipocrisia condenar a liberação do consumo da droga ao mesmo tempo em que bebidas e cigarros- que consideram bem mais prejudiciais ao organismo do que a Cannabis sativa- são comercializados livremente em todo o país. Apesar de chamar a atenção para os riscos do álcool e do tabagismo, esse questionamento não tem levado em conta as dificuldades de comparação de produtos tão diferentes. “A maconha não é pior do que o álcool, mas é muito mais prejudicial do que o cigarro”, afirma o psiquiatra de adolescentes Içami Tiba, autor do livro “ A maconha e o jovem”, editado em 1989.

Anos depois, ele não só continua contra a legalização da maconha como pesquisou e descobriu mais um importante argumento para reforçar a sua posição- a existência de três níveis de prejuízo para o usuário. “Há o prejuízo ético, que ninguém costuma levar em conta, em que há uma quebra de valores próprios. Há também, um comprometimento psicológico, já que a maconha provoca uma forte dependência devido à ação do THC. E. por fim, há o aspecto físico, com danos até para os fetos de grávidas que fumam”, diz o médico.

Quando se fuma um baseado, as moléculas de THC vão para o pulmão. De onde caem na corrente sanguínea que distribui a substância para todos os órgãos. As primeiras moléculas chegam em segundos aos neurônios, embora os efeitos da droga só comecem se manifestar em 10 a 15 minutos (obviamente que vão influenciar a condução segura de um veículo). Atuando diretamente sobre o sistema límbico, sede do comportamento, da memória e das emoções, a maconha modifica as sensações, intensificando-as e tornando-as mais agudas. Olhar simplesmente para a parede pode ganhar a dimensão de uma experiência nova, com cores, volumes e texturas jamais sonhados. “É quando se tem ideias que parecem geniais, mas que são esquecidas tão logo se sai do transe da droga. E mesmo lembrando, elas deixam de fazer sentido na medida em que é impossível seguir a linha de raciocínio que se teve sob o efeito da maconha”, explica a Dra Maria Thereza.

Os que já experimentaram o barato da Cannabis conheceram a excitação, a fala arrastada, o riso constante, os olhos avermelhados, o pulso acelerado, a perda de concentração de atenção, e a fome que se sucedem a um baseado. Em cinco anos, porém, a uma média de cinco cigarros semanais, o quadro se torna dramático. A apatia e o marasmo embotam a inteligência e a vida do indivíduo. “È a chamada síndrome amotivacional, um quadro irreversível de total falta de motivação para a vida”, explica a Dra Maria Thereza. Ou seja a maconha antecipa os malefícios que o álcool irá causar em quinze/25 anos nos homens, ou em cinco a dez nas mulheres.

Para a Dra Maria Thereza a maconha pode ser mais bem perigosa do que o álcool, já que a atmosfera permissiva que a cerca pode levar adolescentes a usá-la para enfrentar o que Freud chamou de “dor de existir”.Mas tornar-se ou não um dependente de drogas, mesmo numa fase de mudança e conflitos interiores, como é o período que antecede à juventude, é resultado de uma conjugação de diversos fatores: estar passando por uma situação desfavorável; o encontro com a droga; e a personalidade de cada um. Este último item é fundamental: a psiquiatra avalia que “não existem drogados em famílias felizes, bem-estruturadas emocionalmente e sem problemas se adaptação. Por outro lado, para pessoas imaturas, com propensão à dependência (seja ela dos pais, de comida ou de outros tipos de apoio), a maconha pode servir para abrir a porta do que é proibido.

Ainda assim há os que, ao abrirem a porta do proibido, entram e saem. E há os que entram e ficam. ”Mais uma vez, o que faz a diferença é a estrutura emocional de cada um”, explica Maria Thereza de Aquino. O mesmo raciocínio responde ao argumento frequente usado de que a maconha seria um trampolim para drogas mais fortes. Não é. “Ao contrário da excitação provocada pela cocaína que leva muita gente a recorrer ao álcool para reduzir o pique, e novamente à cocaína para sair da depressão provocada pelo álcool, no caso da maconha é o ambiente à volta que influencia a se experimentar outras drogas novas e sensações”, explica a psiquiatra.

“Mas aqueles que trilham o caminho das drogas passam por ela. É muito comum a garotada acreditar que tem controle total sobre a droga, mantendo a falsa noção de que fuma porque quer e que é capaz de parar quando desejar. Não é realidade. Dificilmente o garoto percebe que está sendo dominado pela droga, que a dependência psicológica provocada pela maconha, é muito mais forte que a física, pois leva o dependente a sentir a necessidade de alteração psicológica”, afirma o Dr Içami Tiba, que em sua opinião o melhor caminho é concluir que a droga venceu o primeiro assalto da luta e que a família- e não só o filho- precisa de ajuda para não perder toda a batalha.

É fácil também concluir que assim como o álcool, maconha (droga ilícita) e direção é desgraça presumível. O uso das duas drogas ao mesmo tempo é mais desgraça presumível ainda mais quando se está ao volante de um carro.